minha mãe escolheu Fernanda para ser Maria

eu escolhi a Maria, por assim dizer

Fernanda Marques Cordeiro, eu nasci

mas antes vir

escutei o coração de minha mãe

que batia amando um pedaço seu

que era Maria como o meu.

Maria Fernanda Marques

é Fernanda M. Cordeiro

contei todos os dias

- era uma ventania que batia na janela

uma cortina que chovia fina

nas telhas de verão -

e as mangas tomaram tom

de querer comê-las

as folhas do calendário caíram

os números à beira do abismo à meia noite se viam.

contei a vida de todos os dias

interrompi o sino

fiz sinal fechado

atravessei o tempo

desafinei no asfalto

- era um frio de cortar as retinas

a madrugada era branca -

contei dois ventos.

TUDO COMEÇA COM UM SIM

não estou interessada,
não quero ouvir.
não escuto uma palavra
não existem luzes a me conduzir

não usa mais o relógio
não tem tempo para mim
não foi sempre assim

não maltrate meu cachorro
não arranque moedas dos bolsos
não queira me ver mal
não insista até o fim.

não me deixe sem noticias
não esqueça de pagar as contas
não esqueça meu telefone
não apronte!

não deixe recado
não conte meus pecados
não é feriado.

DE SENTIDO...

Luzes brancas
iluminam a rua.
E nesta valsa em que caminhas,
meu tempo para alcançar-te será longo.

E com brilho amanhecendo entre neblinas
o sorriso preguiçoso do sol
Apresenta com simpatia
minha travessia.

Sãos as pernas e os pés
a cabeça e os ombros
que sentem o solo que corro,
e aos poucos e com poucos passos
contados de três em três
é que encontro braços suspensos
a espera de um pouso.
e são os teus,
mais uma vez,
a rodar...

SEM RIMA

Dizem que a boa poesia vale uma nota.
Que para ela existem ouvidos atentos e olhos abertos.

Dizem por ai
que ela tem poderes.

Dizem também que ela é romântica
e que fica muito bem em cartões de final de ano
posando de fada brilhante,
cruzando sons de felicidade e presente.

Dizem que não existe vida sem um pouco de poesia.

As pessoas realmente dizem muitas coisas
para não ter que entender NADA.

e a poesia mesmo,
ela continua calada!

Se cair este pingo,
Essa lágrima ácida.
Verdade de quem viver,
Cada gota deste rio.
Por um silêncio rígido
A boca se deixa revelar
Os olhos de chuva
De uma estação que ainda virá.

São os sons da natureza
Querendo pronunciar...
Você.