sexta-feira, 19 de março de 2010

Um celular que mais desperta do que toca, me acorda...

Ele podia ligar para dar um recado, mas ele tem outra forma. Então ele solta o seu trinado para lembrar-me que é hora de começar o dia. O telefone-despertador fica deitado sobre o tapete ao lado da cama.
Todos os dias sem demora, ele repete com vitoria a ação de me jogar para fora, no mundo! Ele é programado para isso. Eu não. Por isso preciso dele, é pura repetição.
06h30min - Eu piso no aparelho, ele resiste, continua... Nem se machuca. Esfrego os olhos, abro a boca, levanto os braços, um tchau para o teto. Abro a boca de novo ainda sentada, penso em desistir. Meu desejo é voltar bem rápido para o leito que ainda esta quente. 06h40min – Ele. Lembrando-me continuamente. Acorda outra vez. Levanta!
Passo a mão na toalha que foi deixada estrategicamente atrás da porta, enrolada que sou, acabo de acordar em baixo do chuveiro, olhando para o ralo fixamente, enquanto escuto o fiel e insistente companheiro eletrônico em desespero. Seco, tudo seco. Escovo os dentes, desvio o olhar dos meus olhos, desvio a atenção de mim, abro a porta, volto para o quarto. 6h50min - Escolher a roupa certa para passar o dia inteiro, é impossível, mesmo tendo um grande espelho pendurado na parede.
- Eu não me vejo.
Pela manha eu penso de um jeito que a tarde me faz lamentar, o sapato não foi direito.
A calça não combina com a blusa, confortável mesmo é só o que se usa de vez em quando o resto tem sempre defeito. 7h00min - Já estou atrasada, mas ainda não o suficiente. 7h15min - É um desespero.
Silencio, ele parou de gritar, parece que desistiu. Não foi nada disso.
- Que triste!
A bateria acabou, vai ter que ficar em casa para recarregar. Só ele, eu não... Mas não tem problema, ninguém me liga. À noite quando eu voltar vai reprogramar sozinho, quando eu apertar o botão verde, então, luz acesa quase lua cheia, é tarde.
O importante é ele despertar amanha de novo e de novo, sempre, cedinho...
Quem precisa falar comigo é só a vida mesmo.

Um comentário:

  1. Que bonito. Acho lindo quando vc faz prosa (e se vc ficar mai tempo em casa eu tb posso falar, além da vida. rs).
    Bjo

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